segunda-feira, 6 de julho de 2009

Abismo civilizacional, agua e fardas

A forte sensação de desigualdade em Dili não tem apenas a ver com a distancia social entre nativos e internacionais, que e enorme. Há também um abismo civilizacional entre eles. Hoje fui a uma agencia de turismo para decidir sobre o meu próximo fim de semana antes de voltar ao Ocidente. Eu tinha um falso dilema entre permanecer no Timor e conhecer outras regiões do pais ou ir para Bali em um experimento de exotismo asiático, como definiu um colega brasileiro. Digo falso dilema porque, ao que parece, não há excursões para outras partes do Timor e a única possibilidade para uma turista sozinha, com carga mediana de disposição para a aventura, e ir para a Indonésia, o pais rival. Todas as informações que consegui obter foram extraídas a fórceps e soam pouco confiaveis. O entendimento em português e sofrível, mas não se trata apenas de um obstáculo lingüístico. Este e um mundo pré-capitalista e isto produz um cenario de quase-incomunicabilidade entre as partes que estao dentro e fora dele. Tenho a sensação de ser uma criatura de outro planeta para os timorenses com quem tive a oportunidade de interagir – salvo um ou outro membro da elite local que se exilou no tempo da ocupação. Nenhum avanço nos meus projetos de fim de semana.

A situacao da agua no Timor e deploravel. Uma quantidade mínima da população tem acesso a água potável e muitas doenças estão relacionadas a esta restrição. A água que sai da torneira e de péssima qualidade. No banho, faz arder os olhos. Quanto aos cabelos, impossivel qualquer vaidade com eles. Ando com os meus presos todo o tempo.

Nas ruas de Dili, as tropas da ONU promovem um verdadeiro desfile de fardas. O Exercito e emprestado de todas as partes do mundo. Cada um vem e mantem sua indumentaria de origem. No aeroporto, essa diversidade e mais evidente. Lembro-me de me sentir confusa, sem entender quem era a autoridade local. Ontem passei por diversos pontos de controle. Em cada um deles havia um grupamento de nacionalidade distinta. Em uma so tarde tive que apresentar-me a paquistaneses, chineses e franceses. Difícil perceber um sentido de unidade em meio a tanta variedade.

2 comentários:

  1. Uau! Esse relato mistura a perplexidade da antropologia britânica com a narrativa pitoresca tocquevilliana...

    ... quanto a mim, acrescento uma dose de Glória Perez e prometo acompanhar esta aventura tal qual novela!!!

    Cris, querida, boa sorte nesta empreitada!

    Estamos aqui, mas vamos com você.

    Bjs.

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  2. Cris, também estou seguindo o blog. Publica a entrevista com o presidente aqui (na íntegra, será que dá? Era segredo?). Beijos do mano.

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