sexta-feira, 3 de julho de 2009

29 de junho de 2009

Minha passagem por Cingapura foi vivida como um compasso de espera angustiado, ansioso pelo tema principal. Obcecada pelo Timor, tenho lido sobre ele desde que iniciei o longo percurso ate aqui, que incluiu vinte e três horas no ar. Antes da viagem, estive ocupada com mil outras coisas. Como modo de compensar minha aproximação tardia do tema, iniciei uma jornada intensa de leitura a bordo, interrompida pelo cansaço da viagem, pelo transito entre aeroportos e por uma tarde ensolarada de sábado em Paris, com o Bernardo. Há três dias meu pensamento gira em torno do mesmo assunto. Apesar da ignorância que aumenta na medida das leituras, estou vivendo uma fase deliciosa de encantamento e desejo de “experimentar” meu objeto de estudo. O medo do desconhecido, que quase me paralisou antes da viagem, começa a se transformar no desejo pelo desconhecido e eu me sinto pronta para, enfim, conhecer Dili, a cidade devastada pelo conflito que ensaia um esboço tenso de democracia.
O meu dia em Cingapura esteve marcado então pela presença ausente do Timor. Caminhei o quanto pude pela cidade. O tempo todo estive tomada por um misto de curiosidade e preconceito com este lugar que parece uma caricatura do capitalismo, mas que não revela marcas de pobreza. Nunca vi tanta riqueza sem o contraponto necessario. As ruas são largas e os shoppings, todos monumentais, estão em cada esquina. Fiquei curiosa por saber como foi o impacto da crise por aqui, pois tudo me parece pura opulência, sem sinais de abalo. Tudo parece correr as mil maravilhas. Conheci o centro histórico, acanhado pela imponência dos arranha-ceus que dominam a paisagem. Entrei no Museu de Arte de Moderna sem saber o que esperar e fiquei surpresa. Não esperava um ar local num ambiente todo globalizado. Fiquei muito impressionada com os quadros do Wu Guanzhong (acho que e esse o nome, não tenho certeza). São belas representações da natureza com um estética nada Ocidental. Na rua, quando comecei a sentir os primeiros sinais de fome, percebi que a comida e uma trincheira de resistência cultural. Homens e mulheres cobertos de grife comem as loucuras locais. Os Mc Donald’s e Subways eram dos turistas. Na Little India, o impacto foi forte. Ao lado daquelas figuras hindus tradicionais, com vestimentas típicas, os jovens globalizados enfiam as mãos na comida com muita intimidade. Tive dificuldade para comer por causa da pimenta e não cheguei a me animar a comer como os indianos. Consegui implorar um prato “without chilly” em um fast food tailandês. Precisei de um interprete que traduziu o meu inglês para as senhoras que faziam a comida. Depois de minutos de total incomunicabilidade, eu estava desistindo e uma delas agarrou o menino e fez ele mediar a conversa. O garoto então repassou as minhas “exigências” e o final do processo foi seguido por aplausos. Tive que comer com dez pessoas olhando para a minha cara e avaliando a minha relação com a comida.
Voltei exausta para o hotel. Fiz o percurso de volta de metro, que tem uma inusitada tecnologia “anti-suicidio”. Toda a plataforma e separada dos trilhos por portas de correr que se abrem apenas quando chegam os carros do metro. Há uma sincronia impressionante entre a posição das portas fixas e a dos vagões. A sensação que eu tive, aumentada pelo cansaço, foi de estar em um filme de ficção cientifica. Todo o ambiente e ultra-moderno, com transparências e metais leves. Os espaços são amplos e a multidao que circula não chega a produzir uma sensação de confinamento. São todos silenciosos, com gestos calmos. Impressionante elegância nos modos. Nas ruas, sob o sol escaldante, as mulheres abrem suas sombrinhas e seguem tranqüilas, sem uma gota de suor no rosto ou nas roupas, desfilando em saltos monumentais como se andassem de havaianas.
Dormi horas seguidas e ainda sinto meu corpo confuso pelo fuso e pelo cansaço da viagem.

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